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Cova d'oiro

... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego. Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira

Cova d'oiro

... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego. Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira

corda01

Porque amanhã é 25 de Abril!

 

Amanhã é 25 de Abril e comemora-se o dia da Liberdade.

Porém, hoje, ainda é 24 de Abril. Véspera da esperança e da utopia.

E, enquanto ela - a liberdade - não chegava a juventude "daquele" Portugal vivia o quotidiano que, por vezes, passava por dar a vida ( para glória do Império) de forma cuel e desumanamente anónima num destino que não escolhia nem desejava.

 

Partilho convosco a desdita de um amigo de infância, o Chico.

Morreu em Setembro de 1973, de Portugal fardado, estilhaçado por uma mina, numa picada, algures em Moçambique.

Dali a escassos quatro meses era eu que me apresentava, como recruta, na Escola prática de infantaria de Boane.

Para lá, milicianamente obrigado, fui ... mas mais consciente e, porque não dizê-lo, com muito, mas muito mais medo!

 

 

O Alferes Chico
Filho de indiana e português
 
 
O Chico era filho de Indiana e Português.
O primeiro vagido, em Goa, o pai lhe ouviu.
De militar era varão e o mais velho de três.
Ainda menino da Índia Portuguesa fugiu
E à Beira quente de Sofala, um dia chegava.
 
Sua mãe, saudosa, a amada Goa não esquecia
E o Chico sabia, por isso, mais a amava.
Com seu largo coração, do tamanho do amor
A dor que a enviuvou, mais depressa fenecia,
Apesar de ele por seu pai sentir tamanha dor.
 
Os sapatos rotos, glória da militar pensão,
Palmilhavam dia a dia o caminho da escola.
Assim foi crescendo em tamanho e coração.
De Baden Powell, o exemplo cantou à viola
E a linda e loira Marília amou como Platão.
 
Quando, já homem, à guerra o obrigaram a ir
Com Marília, um dia jurou, por amor se ligar.
Louvando sonhos castos de carne por ferir,
Ali mesmo juraram, um dia, virgens se casar.
E, vos juro, Chico a Zona Verde nunca pisou.
 
A nós, amigos, ao deboche jovial sempre disse
Jura de amor por sua Marília ele nunca ousou
Um dia sequer pensar que não cumprisse.
Até‚ quando, no mato, com febres doente ficou
E a negra, bonita e meiga, seu corpo desejou.
 
Alferes amigo, de riso fácil e coração quente.
Seus homens, debaixo de tiro, sempre comandou.
Perguntou-se do porquê dessa guerra demente.
Seu sangue, misto de sangues, nunca aceitou
Que Portugal valoroso de cultura universal
Se perdesse na utópica posse da terra de outrem.
Derramasse sangue jovem do povo sem igual
Para ser dono de quem não quer ser de ninguém.
  
Certo dia à Beira foi ter com a virgem Marília.
Falar com o amigo e bom padre Fernando
Marcar o dia em que, com Marília, se casaria.
Sete dias pela Beira, à civil, esteve namorando.
Contou, no seu jeito de enleio, a guerra que fazia
Quando, com os amigos, um copo ia petiscando
E as lágrimas sofridas pelo camarada que morria.
 
Um dia o Chico, de alferes fardado, a estrada tomou
Com destino à Companhia, algures no mato a poente.
A coluna, pela picada de Tete, em Moatize, a tomou.
Alegre, o Zé viu e a seu lado no carro da frente
Se sentou, em cima do rebenta-minas Berliet.
Ria alegre com o Zé quando um estrondo insano,
Faz saltar a Berliet e com ela, o Chico e o Zé.
 
Oh, Chico um azar nunca vem só!
Quando caíste, acertaste noutra mina
E tu amigo, ali quase te tornaste pó
Tantas foram as partes em que te recolheram.
Regaste de vermelho vivo do teu sangue
As amadas terras de África, que te acolheram.
Delas te despediste, estilhaçado e exangue.
 
Um dia, lembro-me, uma coroa de flores
Abraçava a bandeira do teu caixão.
Pensei no vermelho, na bandeira, nas cores
As mesmas que simbolizam o sangue e a Nação.
Até o loiro dos cabelos da tua Marília chorou
Colorindo a bandeira que cobria o teu caixão.
Oh, Chico, Marília, virgem para sempre ficou.
 
João Pita
escrito entre 1974 e 1978.
 

 

Caravela Sagres St MManuela e Creoula

João Pita

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