... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego.
Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira
... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego.
Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira
Não será aquele que abusa do seu poder ou autoridade?
É claro que é e facilmente se transformará num tirano ou tiranetezinho.
Se tiver sucesso usará e imporá o medo como meio de suster e perpetuar o seu circunstancial poder, que entenderá como absolutamente necessário.
Isto tudo a propósito de uma frase ouvida hoje carregada de sujeição, medo e resignação que me fez recuar às leituras de estudante e à obrigação de estudar tiranos, espartanos, seus hilotas e periecos.
Mas, haver hilotas e periecos neste tempo supostamente moderno e de plena democracia?
É triste, é tristemente compreensível e demasiado doloroso!
Ah, como eu recordo Agostinho da Silva:
"O Povo Culto
Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer
o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem;
dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos
não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo,
porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão;
dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas,
não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas;
dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser digno."
A opinião que se emite ou a regra que se estabelece não tem que se importar com as circunstâncias em que se encontram os homens nem com as possibilidades de acolhimento ou recusa que o mundo lhe oferece; o que é hoje grão seco levanta-se amanhã sobre as ondas do campo como a espiga mais alta e mais cheia; o culto da verdade não se compadece com a adoração dos deuses que presidem aos dias nem com a vã agitação que é de regra no formigueiro humano; cada um tomará o que se diz como quiser; a sua atitude, porém, só interessará enquanto fenómeno base para uma nova legalidade. Não há aqui nem indiferença, nem egoísmo; é mais larga a alma que a par do amor dos homens actuais sente vibrar o amor dos homens do futuro, mais forte o espírito que se orienta para o eterno; a justiça sempre o terá a seu lado armado de todas as armas, não porque sinta para ela um impulso momentâneo mas porque a defende em qualquer tempo; e sempre se há-de recusar, sejam quais forem as razões, a passar em claro uma injustiça ou a servir-se de qualquer meio, apenas porque tal proceder se aparenta vantajoso aos seus interesses ou aos interesses dos seus amigos.
O compromisso pode tornar-se necessário para que a vida se mantenha; mas já essa mesma vida é grande e bela só quando, pelo menos, tende à rigidez das regras absolutas; e a superioridade das nações, a superioridade que há-de acabar por triunfar, consiste no maior número de espíritos que são capazes de optar pela norma quando ela se encontra em conflito com a vida. Quem pretende servir os homens tem aí a melhor dádiva a fazer-lhes: a de se manter sem desvio nas épocas piores, quando todos os outros recorreram ao subterfúgio e a todos cegou a mesma escuridão de um mal presente.
Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem;
dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão;
dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas;
dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser digno.
São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: