... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego.
Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira
... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego.
Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira
"... que Alexandre em vós se veja, sem à dita de Aquiles ter inveja!"
Sim, é verdade, é isso aí. Nem mais! São as duas últimas estrofes de Os Lusíadas. E porque raio de acaso ou propósito o Grande Luis de Camões teria escolhido a palavra inveja para terminar a sua tão grande obra?
Eu sei lá. Pergunto-vos! Vós sabeis? Duvido, ou talvez não, se calhar até sabem ou calculam, ou por ex.; têm um "supônhamos".
Suponhamos então que o Camões tinha razão. Havia e ainda hoje há muito invejoso por aí.
Eles pululam em tudo quanto é sitio, local, família, profissão, classe, casta, elite, religião, credo polititico e ou religioso. Resumindo; ele, o invejoso, pulula aqui e ali e aí também, pois então. O que é que pensa? Que escapava? Não, não escapa não! O invejoso está em todo o lado. Invejoso que se preze é invejoso e ponto final. Não tem explicação! Vai ao ponto de ter inveja de si próprio. Ah, o quê! Esta a rir-se. Não acredita? Ai não? O quê, ainda não reparou e analisou o invejoso olhando para a sua própria sombra? Ele pára, olha a própria sombra e exclama invejoso: - Porra pá! Porque é que tu cresces enquanto o sol orbita e eu não? Mas quem pensas tu que és ó sombra? Não tens nada de crescer sem eu crescer também! Ouviste? Só cresces se eu crescer!!! Não tens nada que crescer! Eu sim, que te dou forma, eu é que mereço crescer e tu não!
Se calhar exagero, mas sei que todos nós temos aquele amigo invejoso, um pouco ou mais ou menos invejoso, mas invejoso afinal.
E ao contrário do que pensam, não o devemos hostilizar ou afastar. Ao invés, temos de continuar e a fomentar essa amizade.
A inveja só mal faz ao próprio invejoso e aos amigos que ele tem.
"... no país. Nas empresas, o mais comum dos empregados se acha virtuoso na especialidade da maledicência; nas estradas, o mais papalvo dos condutores acha que ele é que merecia ir ao volante daquele Porshe; no totomilhões, todos nós achamos uma injustiça a fortuna só sair aos outros, que nem sabem onde gastar o dinheiro, enquanto nós bem o saberíamos aplicar com sabedoria e, até, com um bocadinho de espírito cristão; e, na esplanada, todos achamos que a bela rapariga que se delicia com um gelado na companhia de um brutamontes de cérebro apertado pelos músculos estaria muito melhor na nossa mesa.
Em suma, um dos maiores problemas dos portugueses é achar que tudo o que os outros têm, ou ganham, é sempre duplamente injusto, não só por eles não o merecerem ter ou ganhar, mas ainda porque quem merecia ter e ganhar éramos nós.
Tudo isto nos provoca uma sensação de injustiça nostálgica e nos obriga a sermos azedos e contrariadores das pequenas felicidades que, apesar de tudo, o mundo nos oferece.
...
Mas se Deus nos deu olhos foi para olharmos os outros e não para olharmos para nós. Se a entidade divina quisesse, mesmo, que nos olhássemos para dentro, sempre haveria de de se ter lembrado de nos dar um género de faróis de nevoeiro virados do avesso do umbigo. É verdade que existem espelhos, mas esses, como todos sabem, servem, apenas, para nos admirarmos e contemplarmos na perfeição, única, dos nossos seres.
É assim que percebemos que os outros, coitados, nos invejam..."
O passado dia 10 de Junho, dia de Portugal, passei-o em Santarém.
Decidi fazê-lo por, de entre outras coisas, ser ali a homenagem ao capitão de Abril, Salgueiro Maia.
De entre as outras contava o facto de poder almoçar em Almeirim, ali a dois passos, e saborear a sua famosa sopa da pedra.
Outra, poder visitar a famosa Feira da Agricultura de Santarém.
E é aqui que reside a razão de ser deste post.
Ao passar pelos diversos stands de exposição das variadas raças autóctones deste portugal dei comigo a pensar nas analogias sempre depreciativas que, nós humanos, fazemos.
Parei em frente ao carneiro. Animal vulgar, comum, de olhar meigo e doce e representativo de mamiferos ruminantes da família dos bovideos.
Que raio de analogia fazemos quando alguém é apodado de "CARNEIRO" ?
Porquê a "CARNEIRADA" , quando pretendemos adjectivar gente servil, amorfa, seguidora e acéfala?
Continuando pelos bovídeos e apreciando as raças autóctones presentes, de entre as quais se destacavam a Marinhoa e a Barrosã, dou de caras com um espécime.
Gordo, cornudo e cornúpeto, barrigudo, avaro de comida e bebida, ruminando e grunhindo continuadamente algo, quase, inaudível.
Com destino traçado à partida, o açougue, imaginemos que, enquanto espera, tem dor de corno.
Dor de corno, não!
Neste caso dor do corno.
A forma com olha para o feno do vizinho denuncia ser invejoso.
Está com inveja do outro, o animal!
Arre que é demais!
Ter dor no corno, invejar o parceiro do lado, o que, por si só, faz com que a dor no corno passe a ... dor de corno. Que destino fodido (perdoem-me a libertinagem da expressão).
Saber que mais cedo ou mais tarde será pasto gastronómico - melhor dizendo, entregará a alma ao criador (os bovídeos terão alma?) - e, no entretanto, ter dor de corno por ser invejoso é um destino mais que fodido ... é refodido!
Deixemos os animais ruminantes, que o sol já vai alto no céu azul e quente.
Sigamos, que o dia está lindo e, à nossa frente, já se sente a maresia.