Varina, filha da nossa gente.
O sol brilha no alto do céu azul e quente.
O mar chão acaricia as areias mornas da praia.
Lá longe, mar adentro no molhe, a ronca está calada.
Varina, mulher do meu povo, filha da nossa gente.
Tua voz forte ecoa, trespassa as gentes e a calçada.
De madrugada acartaste barcos e não pareces cansada.
- Oh dona... tome lá um quilo... e bem pesada!
... Não tem escolha, é toda com'a prata!
- Leve que é pr'a acabar e ficar aviada!
Guardas o dinheiro da troca no regaço quente.
- Na, que ele é pouco e de muita precisão.
Teus filhos dele vão comer, calçar e vestir.
Por eles transborda de amor inquieto teu coração.
Tão cedo abalas, nem os vês medrar e para o mar partir
- Sardinha fresca, sardinha fresca da praia!
À cabeça, a canastra de vime levas já destapada.
Teus alvos braços erguidos, nús e arregaçados
Erguem o fecundo regaço quente e teu peito roliço.
À noite, cansada, teu homem e tu abraçados
Como mar e terra desde sempre ligados.
Sentes o fugaz do seu cio, qual sumiço.
Desconsolada, para o lado te deitas resignada.
Varina mulher do meu povo, filha da nossa gente
Teu avental bordado sorri, qual mar rendilhadoTeu homem não tem, hoje, mar que o apoquente.