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Cova d'oiro

... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego. Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira

Cova d'oiro

... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego. Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira

corda01

O cano de uma pistola pelo cu

 

 

Por, Juan José Millás.

 

Se percebemos bem - e não é fácil, porque somos um bocado tontos -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo da classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.

Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.

Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas - e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira. 

Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco filho da puta compra geralmente é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita à meia-noite. Um país que, da perspetiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.

A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional: o tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe todo o caráter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para uma competição. Nada disso conta para a economia financeira ou para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país - este, por acaso -, e diz "compro" ou "vendo" com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.

Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública - onde estas ainda existem - os filhos, também eles produto de consumo desse exército de cabrões protegidos pelos governos de meio mundo mas sobreprotegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, mais simplesmente, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto lê estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres. E não são desviados num movimento racional, justo ou legítimo, são-no num movimento especulativo promovido por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro.

Tu e eu, com a nossa febre, os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.

A ti e a mim, estão a pôr nos carris do comboio uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com ruturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas ações terroristas que passam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até ganham, e porque há atrás deles importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.

A economia financeira, se começamos a perceber, significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um cabrão com os documentos certos. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A atividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam dos gráficos.

Aqui se modifica o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém resolva o problema, ou mais, enviando as autoridades para cima de quem tenta fazê-lo. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger esse filho da puta que te vendeu, recorrendo a um esquema legalmente permitido, um produto financeiro, ou seja, um objeto irreal no qual tu investiste, na melhor das hipóteses, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumaça, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.

Na economia real, para que uma alface nasça, há que semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, há que a colher, claro, e embalar e distribuir e faturar a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora nos são retirados porque a economia financeira tropeçou e há que tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.

 

Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos.

 

 

Juan José Millás

 

 

é um escritor espanhol. Alcançou a consagração literária com a obra "El desorden de tu nombre".

Em 1990 obteve o  prémio Nadal com "La soledad era esto".

Nasceu em Valencia em 1946 e reside em Madrid desde os seis anos de idade.

Atualmente, Millás alterna a sua dedicação literária com numerosas colaborações na imprensa.

É professor da Escuela de Letras de Madrid desde a sua fundação.

 

 

 

Wand'ring Star"

 Lee Marvin

 "Wand'rin' Star" from the western musical Paint Your Wagon (1969).

 

 

I was born under a wanderin star

I was born under a wanderin star

Wheels are made for rollin
Mules are made to pack
I never seen a sight that didnt look better looking back.

I was born under a wanderin star

Mud can make you prisoner
And the plains can bake you dry
Snow can burn your eyes
But only people make you cry
Home is made for comin from
For dreams of goin to
Which with any luck will never come true

I was born under a wanderin star
I was born under a wanderin star

Do I know where hell is?
Hell is in Hello
Heaven is good-bye forever
Its time for me to go

I was born under a wanderin star
A wanderin wanderin star

Mud can make you prisoner
And the plains can bake you dry
Snow can burn your eyes
But only people make you cry
Home is made for comin from
For dreams of goin to
Which with any luck will never come true

I was born under a wanderin star
I was born under a wanderin star

When I get to heaven
Tie me to a tree
Or Ill begin to roam
And soon you know where I will be

I was born under a wanderin star
A wanderin wanderin star


 

Capitão João Pereira Mano

 

Tudo, mesmo tudo, o que aqui escrevo sobre a Cova e a Gala e os covagalenses o devo ao Capitão João Pereira Mano.

Foi aos seus livros que fui buscar as informações sobre as origens da Cova e da Gala e o conceito da Cova D'oiro.

Se, hoje, sabemos de onde provimos ao Capitão João Pereira Mano o devemos.

 

Obrigado Capitão!

 

" João Pereia Mano nasceu na Gala, Figueira da Foz, a 2 de Setembro de 1914.

Filho, neto e bisneto de pescadores e orfão de pais aos 12 anos, tirou o curso elementar da Escola Naútica com dificuldades pecuniárias, tendo obtido, decerto forçado por essas circunstâncias, a melhor classificação do curso. ...

... Depois da sua reforma, aos 61 anos, dedicou-se à investigação (principalmente nos arquivos de Lisboa, Coimbra e Aveiro) da história das povoações do litoral figueirensee especialmente das origens dos pescadores da Cova e da Gala. ..."

 

Bibliografia do Capitão João Pereira Mano:

 

1. Terras do mar salgado: São Julião da Figueira da Foz, São Pedro da Cova-Gala, Buarcos, Costa de Lavos e Leirosa. Centro de Estudos do Mar e das Navegações; Figueira da Foz.

2. As freguesias de S. Pedro, Lavos, S. Julião e Buarcos em artigos de buscador [texto fotocopiado / compil. João Mano.

3. Terras do mar salgado: São Julião da Figueira da Foz - São Pedro da Cova - Gala - Buarcos - Costa de Lavos e Leirosa / João Pereira Mano. Figueira da Foz: Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque - CEMAR. ISBN 972-8289-07-3.

4. Lavos: nove séculos de História. Seguidos de inéditos e esparsos / João Pereira Mano. Figueira da Foz - Lavos: Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque - CEMAR. Junta de Freguesia de Lavos. ISBN 972-8289-16-2.

5. Adenda à compilação dos "Artigos de Buscador" / João Mano. [Figueira da Foz]: O Dever.

6. Jacinto de Jesus e Silva, navegador figueirense de meados do século XIX / João Pereira Mano. 2004.

7. A frota de pesca Cova Galense à volta de 1890 (barcos, redes, arrais e donos) / João P. Mano. 2004.

8. A mudança da Câmara de Tavarede para o lugar ou porto da Figueira / João P. Mano. 2005.

9. O patacho Zaida e a primeira travessia aérea do Atlântico Sul / João P. Mano. 2006.

10. Singular naufrágio ao longo da Costa, entre o Cabo Mondego e a Ria, de um comboio de navios britânicos, em 1804 / pelo Capitão João Mano. 1979.

 

Obrigado Capitão!

 

 

 

Convém não esquecer

 

Nos tempos que correm, nestes tempos de mudança e de crise de tudo o que se prende à memória e, também, à ética é normal o aproveitamento oportuno das ocasiões.
 
Vem isto a propósito da reforma administrativa levada a cabo pelo ministro Relvas, personificada pela lei 22/2012 e que pode, repito, pode levar à extinção, enquanto tal, da Freguesia de S. Pedro do Concelho da Figueira da Foz.
 
Esta re-postagem, “ Deste povo, este mar”, (X)  tem a simples, mas importante intenção de lembrar que, para além dos critérios de censos populacionais e geográficos, este povo da Cova e da Gala tem uma identidade que lhe advém da gênese e que está para além da Figueira da Foz.
 
Quero com isto dizer que, sendo figueirenses, os covagalenses não são só figueirenses, são mais do que isso.
 
Carregam na sua identidade o legado das gentes de Ílhavo que no século XVII aqui, à Cova d’oiro, (Cova’doiro é um conceito, uma realidade ou um sonho?)  chegaram, se instalaram, se desenvolveram e disseminaram  Cova-Gala, um povoado e um só povo... uma vila!.
 
A Freguesia de S. Pedro faz parte desse trajeto, desse património.
 
Convém não o esquecer!
 
Caravela Sagres St MManuela e Creoula

João Pita

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