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Playing for Change
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Playing for Change
Playing for change
Lana Del Rey
Born To Die - The Paradise Edition
Ride
... Eu estive no inverno da minha vida e o homem que conheci ao longo dessa estrada foi o meu único e autentico verão.
À noite eu dormia com visões de mim mesma, dançando, rindo e chorando com eles.
Três anos sem rumo, um tour mundial sem fim e as memórias eram as únicas coisas que me sustentavam e os meus únicos momentos de felicidade real.
Eu fui cantora, não muito popular, que sonhava em um dia ser uma linda poetisa mas que, diante de uma série de infortuneos, viu todos os seus sonhos estilhaçados em milhões de estrelas no céu da noite reluzente e repartido, mas que almejava de novo, uma e outra vez.
Mas eu não me preocupava porque sabia que isso me daria tudo o que sempre quis e, depois perderia tudo de novo, para saber o que é a verdadeira liberdade.
Quando as pessoas, que conhecia, descobriram o que estava fazendo, como estava vivendo, perguntaram porquê.
Mas não é facil falar com pessoas que têm um lar, elas não tem ideia de como é, como é a procura de segurança noutras pessoas, a procura do aconchego de um ombro amigo onde deitar a cabeça.
Eu sempre fui uma garota incomum. Minha mãe me disse que eu tinha uma alma de camaleão, sem uma bússola moral que apontasse para o norte, sem personalidade fixa. Apenas uma indecisão interior e esvoaçava livre, aberta e ondulava como o oceano.
E se eu disesse que não planeei pra ficar desse jeito, estaria mentindo, porque eu nasci para ser outra mulher.
Eu não pertencia a ninguém e pertencia a todos, que não tinha nada, que queria tudo e com um fogo em cada experiência e uma obsessão por liberdade que me aterrorizava.
E só o falar sobre isso me empurrava para um ponto nômada de loucura, que me deslumbrava e me deixava tonta.
...
I’ve been out on that open road
You can be my full time, daddy
White and gold
Singing blues has been getting old
You can be my full time, baby
Hot or cold
Don’t break me down
I’ve been travelin’ too long
I’ve been trying too hard
With one pretty song
I hear the birds on the summer breeze, I drive fast
I am alone in the night
Been trying hard not to get into trouble, but I
I’ve got a war in my mind
So, I just ride
Dying young and I’m playing hard
That’s the way my father made his life an art
Drink all day and we talk ‘til dark
That’s the way the Road Dogs do it, ride ‘til dark
Don’t leave me now
Don’t say goodbye
Don’t turn around
Leave me high and dry
I hear the birds on the summer breeze, I drive fast
I am alone in the night
Been trying hard not to get in trouble, but I
I’ve got a war in my mind
I just ride
I’m tired of feeling like I’m fucking crazy
I’m tired of driving ‘till I see stars in my eyes
I look up to hear myself saying
“Baby, too much I strive, I just ride”
I hear the birds on the summer breeze, I drive fast
I am alone in the night
Been trying hard not to get in trouble, but I
I’ve got a war in my mind
I just ride
Os Pobrezinhos
Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres.
Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida. Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam.
Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:
- Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.
O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente».
No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre.
Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:
- Não se chegue muito que esta gente tem piolhos. Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto
(- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro) de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico.
- Agora veja lá, não gaste tudo em vinho o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:
- Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu.
Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros:
- O que é que o menino quer, esta gente é assim e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.
Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse:
- Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão. Na minha ideia o padre Cruz e a Saõzinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso. Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me.
E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis.
Uma crónica de António Lobo Antunes
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