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Cova d'oiro

... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego. Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira

Cova d'oiro

... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego. Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira

corda01

“… Branquear, omitir...

“… Branquear, omitir, fazer de conta que podia ser pior é permanentemente arriscar a vida das populações com a ignorância, a desfaçatez, a incompetência e o desnorte de alguns que não têm o direito de nos pôr em maior risco. …”

 

Isto, assim, deste modo, dito logo no dia seguinte à Figueira da Foz ter sido fustigada por ventos ciclónicos como NUNCA se viram é, no mínimo, ignóbil - politicamente falando, claro. Porque, pessoalmente, o conhecimento que tenho do autor da dita frase não me permite dizer que o seja. Ignóbil.

No entretanto, queria dizer que o som surdo daquelas saraivadas que fizeram estremecer o CAE foi, no mínimo, arrepiante.

Apesar de algumas episódicas manifestações de pânico sentimo-nos em segurança, seguindo as indicações da Proteção Civil de permanência no espaço. Foram duas longas horas sempre com a preocupação de saber das condições de circulação nas pontes para o necessário regresso a casa. A ausência de redes móveis, que só apareciam a espaços, foi uma angústia acrescida.
O circular serpenteante na avenida das abadias, contornando as arvores caídas, fez-nos ficar em silêncio perante tamanha devastação. Seguimos as indicações da Proteção Civil em plena atividade de segurança, proteção e limpeza. O mesmo nas vias rápidas de acesso à ponte. Aqui, circulando em coluna de veículos (fez-me lembrar os longínquos tempos da guerra colonial) cada vez mais devagar e com mais cuidado.  Os pirilampos da Proteção Civil sempre a servirem-nos de guia e farol.

Ao entrar na Gala, mais pirilampos e mais intensos, vimos o nosso bote das artes por terra partido ao meio misturado com as árvores caídas e o nosso coração apertou-se, ainda mais. O telhado do recreio da escola nova desabado, partes do hospital jazendo em plena estrada, árvores e mais árvores caídas, telhados destelhados, janelas, marquises, varandas torcidas, placas, sinais, postes, candeeiros, retorcidos dobrados e caídos. E sempre o pirilampejar da Proteção Civil presente, limpando, sinalizando e desobstruindo.

O barco da arte da Cova d’óiro arremessado por uma onda de violência extrema partido a cem metros de distância, a bateira da praia do Hospital desmaiada na berma da estrada, quebrada.

Os equipamentos sociais e de turismo da Junta de Freguesia na paria da Cova, na praia do hospital, no parque de merendas, arrasados, destruídos e em escombros.

Logo de manhã bem cedo as pessoas mal dormidas saem e começam as limpezas. É neste momento que a areia se torna rainha, déspota e cruel, da Cova-Gala. Toneladas e toneladas de areia nas ruas, nos quintais, nos passeios, nas varandas, nas janelas, nas persianas, nas frinchas mais recônditas que possamos imaginar. Areia e mais areia e pessoas e famílias inteiras a limpar e a limpar.

Estas pessoas não perderam tempo a apontar o dedo a procurar culpados a criticar. Entenderam a sua verdadeira dimensão humana face à natureza e seus elementos (do qual fazemos parte) e fizeram o que lhes competia, a sua parte.

Da parte da tarde, era visível o início da reconstrução. Novamente as pessoas, famílias, amigos, agora mais organizadas, com maior solidariedade apoiavam-se mutuamente, separavam viveres, montavam andaimes, colocavam telhas, atavam, pregavam, soldavam, construíam. Telefonavam, combinavam encontros, acionaram seguros, pediram orçamentos e avançavam como seres humanos gregários e solidários.

Estas pessoas não perderam tempo a apontar o dedo a procurar culpados a criticar. Entenderam a sua verdadeira dimensão humana face à natureza e seus elementos (do qual fazemos parte) e continuavam a fazer o que lhes competia, a sua parte.

 

“… Branquear, omitir, fazer de conta que podia ser pior é permanentemente arriscar a vida das populações com a ignorância, a desfaçatez, a incompetência e o desnorte de alguns que não têm o direito de nos pôr em maior risco. …”

 

O político que afirmou isto pode pensar que, tendo uma máquina de apoio que funciona bem e sobre rodas, pode usar a desgraça alheia para se catapultar. Mas faz mal. O que esta simples gente, que já iniciou a reconstrução, quer é que os políticos tenham a capacidade de se recolherem na solidão do seu pensamento, constatarem a humilde singeleza da sua condição humana e, assim, entenderem os benefícios potenciadores da solidariedade agregadora e engrandecedora.

É por esta e por outras que não é difícil entender a enorme dificuldade da Figueira se libertar da sua tacanha condição.

Caravela Sagres St MManuela e Creoula

João Pita

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