Texto de ficção, ou talvez não
*Este cabedelo moderno, arejado e democrático não pode, não deve ter donos.*
*Deve ser de todos e para todos.*
Continuo na minha; cabedelo ao abandono é burrice!
Já lá vão muitos anos, mas continuo na minha; cabedelo ao abandono é burrice e foi-o durante muitas décadas, esteve sempre ao abandono apesar da sua esplendorosa natureza que é ser a faixa de areia na foz de um rio, o mondego, mas, neste caso, ... do lado de lá.
Pois, pois é, do lado de cá.
Do lado de cá; quiçá a maior e mais relevante razão do seu abandono.
Mas deixemos lá isso.
Vamos ao que importa que é aplaudir o projeto de arranjo e modernização do Cabedelo.
Podemos discordar se isto ou aquilo está bem, menos bem, ou, assim assim, mas aplaudimos a intervenção no cabedelo no seu todo porque, em ultima instância, o abandono é sempre o derradeiro estágio e disso já tivemos e vivemos demasiado tempo.
Este projeto contempla a preservação e consolidação dunar, o pedoneio controlado, espaços verdes, estacionamentos organizados, circulação de veículos, atividades lúdicas, desportivas, de lazer e principalmente o fruir magnifico das praias.
Contempla, portanto, a atividade humana nos seus diversos fatores, incluso a comercial, a ocupação controlada e em segurança das crianças em espaços apropriados.
E conta com o surf, atividade rainha e predominante do cabedelo, diversificado pelas suas vertentes; desportiva, lazer, escolar, formativa e comercial.
Este cabedelo moderno, arejado e democrático (porque o abandono é sempre ditatorial e austero) pode e deve comportar um espaço de campismo onde as pessoas possam usufruir das belezas deste magnifico cabedelo, por pequenos períodos de tempo de verdadeiras férias.
Este cabedelo moderno, arejado e democrático não pode, não deve ter donos.
Deve ser de todos e para todos.
Não pode ter - e ser - um parque habitacional de segunda habitação com vista magnifica para o Atlântico (qual Filé Mignon), gozando de privilégios caducos e obsoletos e com uma distribuição de espaços que roça - perdoar-me-ão o exagero - o conceito de "usucapião".
Escalpelizando esta do "usucapião" em termos de ocupação de "alguns" alvéolos diremos que, começando em 1985 e somando os necessários vinte anos de uso não registado, o mesmo já vai em quase trinta anos.
E, depois, ainda, temos o meu amigo António que se dirigiu para lá com a sua autocaravana e pediu uma semanita, em alvéolo virado para o mar sobre o molhe sul.
A reposta que recebeu foi que tal não era possível pois já estava tudo ocupado há bbbuuuéééé de tempo e, questionado o funcionário, como era ainda jovem, não foi capaz de dizer desde quando.
*Este cabedelo moderno, arejado e democrático não pode, não deve ter donos.*
*Deve ser de todos e para todos.*