Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Cova d'oiro

... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego. Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira

Cova d'oiro

... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego. Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira

corda01

O menino de África

Poderá parecer uma deriva do proposto, no entanto, a actualidade com a ameaça de crise alimentar e a deficiente gestão da Dignidade Humana   é tão pungente que apetece evocar a memória...

 Carregue em PLAY e ouça ...

O inicio...

Eu sou o menino de África

Correndo feliz pela matas verdejantes
Trepei mangais, cajueiros e coqueirais
Bebi água de coco e do caju cajuada
Nadei em nascentes, rios e cascatas
Brotando do alto de rochas escarpadas.
Nelas agucei a ponta de minha lança 
Com ela corri savanas como alce alado 
E cacei leão como quem dança.
 
Eu sou o menino de África 
 
Olhando espantado de medo
O homem do mar de cara branca.
Tão branca, tão alva, tão diáfana.
Que se curvou mudo e submisso
Pensando encarar o deus
Dos mares profundos e infindos.
Que fugiu apavorado quando o tiro rugiu
 

Troando das mãos do senhor branco

Pensando ser …“deus” zangado.

 
Eu sou o menino de África

Que seu corpo livre e despido

Viu vestido de trajes e tecidos.

Assim perdeu a pureza genuína

Da nudez que sempre a vestiu. 
Que viu bandeira que não a sua 
Hastear-se no meio do terreiro
Da terra livre que sempre o viu correr.
 
Eu sou o menino de África
 
Que o homem de cara branca,
Que mais parecia “deus” do mar 
Explorou, vendeu e escravizou.
Que viu seu pai ser caçado
 

Arrastado, preso e manietado

 

Embarcar em naus de velas brancas
E acorrentado, ser vendido como escravo.

Eu sou o menino de África

Que lutou em lutas fratricidas
 

E em guerras que não as suas

A mando do senhor da sua terra.

Um dia fugiu e, os seus juntou,
Dando asas de liberdade à ânsia
De tornar sua a terra de seus avós
Que, em si, de o ser nunca deixou.
 
Eu sou o menino de África

Que há muito olvidou
O som de batuque da chuva caindo
O aroma intenso da terra embriagada 
Evolar-se no ar, formando nova chuva.
Que há muito não sente
Na planta dos pés descalços
A húmida terra das chuvas verdejantes
E a aveludada frescura da erva molhada.
 
Eu sou o menino de África
 
Que viu pó seco e asfixiante 
Amortalhar terras livres e férteis
Até onde a vista não alcança.
Sugar do útero de suas entranhas
O sémen fecundo das sementeiras.
De suas veias, o filão de água cristalina,
De sua face, o verde das plantas
E o viçoso orvalho das madrugadas.
 
Eu sou o menino de África
 
Que já não corre feliz
Pelas matas verdejantes
... Antes sonha com elas.
Nos delírios sonolentos da fome, 
Sonha um sonho lindo
Que o homem, um dia teve 
 
... Os direitos da Criança....  
 
Eu sou o menino de África 
Que não sente os bichos e os insectos 
Pousados em seus olhos cegos e abertos
Sugarem o sangue de suas chagas
Sorverem a humidade do Grito alucinante
Mudo em sua boca aberta e calada. 
 
Eu sou o menino de África
Que, já não sonha, nem dorme. 
 
Apenas é,
Está.
Em vida jaz ali!
 
Mhundo!
 
Liberta-me desta morte em vida
Oferta-me a vida que não vivi!
Liberta-me dos direitos meus 
Escritos para crianças que não eu.
Deixa-me ser, só uma vez, criança
Sem direitos, sem nada, só criança.
Não deixes que seja sempre
O teu menino de África!
 
Eu já não sou o menino de África
 
Agora... aqui
Na etérea e viçosa abundância
Olho e não te vejo
Também tu não me vês a mim.
Brinco... Até que enfim...
Tornei-me menino, criança
A rir, a cantar, a sorrir
...
Eu já não sou o menino de África!
 
... E o Fim!
 

 João Pita

 
 
Caravela Sagres St MManuela e Creoula

8 comentários

Comentar post

João Pita

painel06
painel06

Links

Identidade

Pescadores da Cova-Gala, *****Cédulas marítimas *. Videos

Videos

Músicas roladas n'areia

Viagens passadas

painel06
painel06

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.