Povo Luso
Mero engano oh, português das serranias e da lusitânia
Hoje, a ânsia desejada da esperança e da ventura, é o que se vê.
Tem o nome de coelho, sarkosi, merkel, FMI e BCE.
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Poesia Angolana
Século Velho
Rosto sofrido / esculpido,
Face enrugada / martelada,
Mãos calejadas / marcadas,
Olhar distante / sentido,
Triste, nublado, cansado.
Cabelo ralo / esbranquiçado,
Barba farta / grisalha,
Própria da sua idade
Século velho ...
Tão velho como as minhas saudades.
Necas Carvalho
As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
Homeward by Bassey Ikpi
A caminho de casa, ou ... aquele que se dirige a casa.
A eterna procura das raízes e da identidade.
É desta forma que Bassey Ikpi a entende e a proclama.
Ouçamos...
O que alimenta essa corja de inaptos?
Que água lhes mata a sede de destruir
O que, por inépcia, nunca chegaram a construir?
Que raio de terrível e maldito genes,
Dá origem a estes mentecaptos?
Por favor!
Se souberem digam!
Urge curar o mundo desta corja!
É insuportável olhar os sorrisos bajuladores
Em dorso dobrado ao cínico fingimento.
O olhar velado de fingido constrangimento
Na incapacidade, confrangedora, de pensar.
Aceitam mudos e submissos as regras.
Mas, num ápice, nas costas dos que servem,
Logo destilam a crítica porca e inevitável!
Que reles alegria sentirão
Quando, nas costas de quem dependem,
Os maiores e indefectíveis adjectivos usam,
Ululando na eloquência de vermes venenosos,
Criticando tudo e todos sem sentido?
Com a mesma facilidade, quando,
Com as costas dobradas, tudo aceitam?
E sorriem em esgares desmesurados…
Já não suporto mais!
Por favor
Urge o remédio!
Algures em Agosto de 2003.
João PIta
Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
JOSÉ RÉGIO
Soneto escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos.
Analogias???
Uma obra é de uma vida inseparável…
Carregue em PLAY e ouça, lendo ...
Tanto mar, tanto ar, tanto medo
Tanto frio, tanto nada, tanto gelo!
O que é que faço aqui?
Neste norte branco, neste vento.
Neste mundo, branca névoa.
Nesta bruma,
Nesta escuna
Neste bote, neste dóri.
Madeiro leve e lasso.
Nestas ondas deste mar
Do norte frio e de morte.
O que é que eu faço,
Que é que eu faço?
Quero fugir!
Fugir da ditadura
Da surriada, do trole, bacalhau
Da isca, da linha, zagaia e pingalim.
Este gelo corta como aço
Que tanto tortura, tanto dura.
O que é que eu faço,
Que é que eu faço?
A tanto mar, tanto ar, tanto medo
Tanto frio, tanto nada, tanto gelo!
O que é que faço aqui?
Neste norte branco, neste vento.
Neste mundo, branca névoa
Nesta bruma,
Nesta escuna
Neste bote, neste dóri
Madeiro, leve e lasso.
Nestas ondas deste mar
Do norte frio e de morte.
O que é que eu faço,
Que é que eu faço?
08.09.05
João Pita
... a um soneto de um amigo
Recolhido em meu pensamento
Eu, para aqui, na tasca da “Hesbolina”,
Descansando à sombra de um belo momento,
Degusto a ébria e rubra essência “tanina”.
Percorro esse teu belo soneto, amigo,
Ode de amor à terra que é a tua.
Hino de glória a este povo antigo
E à aventura que tem sido a vida sua.
Sorrio e ergo meu copo, neste momento
Vislumbro-o, como que por um postigo,
E nem por um segundo eu lamento.
Esta herança, tu sabes, amigo,
Vem de trás, do mar, do sal e do vento,
Levá-la-ei para sempre comigo.
06.08.26
Poema de José Régio
Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.
Confesso que foi surpreendente e, algo envergonhado, admito a ignorância.
De qualquer forma foi bom encontrar este momento e (re)descobrir Alicia Keys:
P.O.W.
P.D.P. (tradução)
Eu sou um prisioneiro
Das palavras por dizer
Apenas solitários sentimentos
Trancados na minha cabeça
Eu me prendo mais e mais
Toda vez que eu fico quieto
E deva começar a falar.
Mas eu paro e permaneço em silêncio
E, assim, eu tenho feito
Minha própria prisão de palavras por dizer
Eu sou um P.D.P.
Não um prisioneiro de guerra.
Um prisioneiro de palavras
Na maior parte das vezes eu digo somente
O que você quer ouvir
Você suportaria se eu fosse claro?
Ou você prefere me ver
Pedrado na droga da complacência e do acordo.
M.I.A.
Acho que é o que sou
Raspando esta terra dura e fria
Por um pedaço de mim mesmo
Por um pedaço em mim mesmo
Seria mais fácil se você me pusesse numa prisão
Se me trancasse
Eu teria alguém pra culpar
Mas essas barras de aço fui eu quem as fez
Elas cercam minha mente
E me têm agitado.
Minhas mãos estão presas atrás das minhas costas
Eu sou um prisioneiro do pior tipo, de facto.
Um prisioneiro do compromisso
Um prisioneiro da compaixão
Um prisioneiro da bondade
Um prisioneiro da expectativa
Um prisioneiro da minha juventude
Correndo bastante rápido para ser velho
Esqueci o que me foi dito
Não serei uma visão para contemplar?
Um prisioneiro da idade que morre para ser novo
Na minha cabeça está a minha mão com uma arma
E está frio e está difícil
Porque não há por onde fugir
Quando se prendeu a si mesmo
Por segurar sua língua.
Eu sou um prisioneiro
Das palavras por dizer
Apenas solitários sentimentos
Trancados na minha cabeça
É como um solitário confinamento
Toda vez que eu fico quieto
Eu deveria começar a falar
Mas eu paro e fico em silêncio
E agora eu fiz
Minha própria cama dura
Dentro da prisão das palavras por dizer
Amanhã é 25 de Abril e comemora-se o dia da Liberdade.
Porém, hoje, ainda é 24 de Abril. Véspera da esperança e da utopia.
E, enquanto ela - a liberdade - não chegava a juventude "daquele" Portugal vivia o quotidiano que, por vezes, passava por dar a vida ( para glória do Império) de forma cuel e desumanamente anónima num destino que não escolhia nem desejava.
Partilho convosco a desdita de um amigo de infância, o Chico.
Morreu em Setembro de 1973, de Portugal fardado, estilhaçado por uma mina, numa picada, algures em Moçambique.
Dali a escassos quatro meses era eu que me apresentava, como recruta, na Escola prática de infantaria de Boane.
Para lá, milicianamente obrigado, fui ... mas mais consciente e, porque não dizê-lo, com muito, mas muito mais medo!
Poema de Maria João Brito e Sousa
in
poetaporkedeusker.blogs.sapo.pt/
Se eu for ao mar chorar por ti,
Se eu for ao mar de manto negro,
Talvez o mar perceba o que senti,
Talvez o mar entenda o meu segredo…
Se nesse mar eu me perder um dia,
Se mergulhar nesse seu sal sem fim,
Talvez possa encontrar o que queria,
Talvez descubra o mar dentro de mim…
E nesta condição de ser, no cais,
Mulher e mãe e filha e companheira,
Talvez o próprio mar me queira mais…
Se um dia for ao mar contar quem sou,
Talvez o mar, em mágoa verdadeira,
Chore comigo e abrace a minha dor…
Magnifico soneto de Maria João Brito e Sousa
in
poetaporkedeusker.blogs.sapo.pt/
A visita do poeta de África e do mundo, que proclama "a utopia de olhos escancarados", ao nosso - menino de áfrica, - foi um previlégio.
Aqui partilhamos o presente que, na sua humilde grandeza, nos ofertou.
Obrigado, Adriano Alcantâra.
A TORTO DIREITO
Sussurram tempos e contrariedades,
caem dias a torto e a direito.
Fica quem tudo a eito leva,
e não quem de todo a nada chega.
Escondo-me atrás de mim
e vejo-me tinto no copo,
do olhar do mundo afastado.
Olho-me e ouço as cousas ficarem
no fluir de um sussurro, no osso
de um momento, teus lábios
fugidios na ponta da noite além
onde me aconchego e escondo,
torto em sábios dias aí tecidos,
aqui direito em nós de luz.
Adriano Alcântara
Novembro quente, água-pé na mente. 2007
É possivel ver em Fullscreen
Poderá parecer uma deriva do proposto, no entanto, a actualidade com a ameaça de crise alimentar e a deficiente gestão da Dignidade Humana é tão pungente que apetece evocar a memória...
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O inicio...
Troando das mãos do senhor branco
Pensando ser …“deus” zangado.
Viu vestido de trajes e tecidos.
Assim perdeu a pureza genuína
Arrastado, preso e manietado
Embarcar em naus de velas brancas
E acorrentado, ser vendido como escravo.
E em guerras que não as suas
A mando do senhor da sua terra.
João Pita
Como mar e terra desde sempre ligados.
Teu avental bordado sorri, qual mar rendilhadoTeu homem não tem, hoje, mar que o apoquente.
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