Bom Ano Novo
Bom Ano Novo sem emojis, gIFs, luzinhas e afins
Este texto tem o simples objetivo de desejar um esplêndido – creiam, foi o melhor e mais grandioso adjetivo que me ocorreu – esplêndido, espetacular ANO NOVO de 2019. Já agora carregado à vergueira de saúde, dinheiro, felicidade e escrito com LETRA GRANDE, maiúscula, para reforçar e enaltecer este nobre, leal e amigo desejo.
Repararam no à vergueira?
Gostei de ter escrito “à vergueira”. Apesar de ser uma palavra em desuso gosto dela porque significa fartura de pescado, redes a rebentar pela boca, pronúncio de mesa farta e alegre e tem o condão de me fazer recuar no tempo, imaginar quem aqui pelo mar chegou, nestas dunas se abrigou e se desenvolveu enquanto povo.
Eu disse “nestas dunas”?
Pois disse e se disse está dito, mas está mal-amanhado, porque de dunas já não temos quase nada. Quanto muito a saudade imaginativa da lembrança. E, aqui, olhando o mar da Cova neste dia solarengo e de mar manso que mais parece um enorme lago, não consigo imaginar a força poderosa e destruidora que o leva a provocar tamanha erosão que nos vai roubando as dunas a cada ano que passa.
Pois é, eu sei, isto não é assim tão simples!
Temos de colocar nesta equação a chamada bomba do atlântico, o aquecimento global e todas as obras que o homem vai fazendo alterando os cursos dos rios, o desaguar dos mesmos, o perfil da costa e o percurso das suas correntes. Ok, se calhar ainda haverá milhentas razões e motivos, mas declaro desde já as minhas limitações e falta de competências na matéria para não as conseguir elencar.
Dou comigo a sorrir com aquele sorriso velhaco e trocista como faço sempre que ouço tantos e tantos experts na matéria em grandes palestras a mandar bitaites sobre a erosão.
Mas, o que dói mais, dói mesmo mais é constatar a inépcia a incúria e a incompetência técnica e politica de quem tem obrigação de zelar pela segurança das pessoas e bens.
Viro-me para sul e a linha do molhe não permite que vislumbre a praia erodida e sem dunas, que tem por lá plantados uns sacos a que chamam de “geo-cilindros”. (Agora o acordo tramou-me, não sei se escrevo assim como está ou sem hífen.) O melhor é deixar ficar, ninguém vai levar a mal que os “geo-cilindros” fiquem mal na grafia, porque o que se quer, o que as pessoas preocupadas com a sua segurança com os seus bens e património desejam ardentemente e com muito força é que fiquem bem na eficiência.
Sinto pelas costas uma leve aragem da maresia que me faz recordar estar em finais do mês de dezembro.
- Bom dia sr. João, tem aí uma moedinha?
- Olá, Sr. João, bom dia! Como vai?
Estou a ver que não foi ao centro. Disseram-me que o senhor não quis ir ao médico fazer análises?
- Eu, não. Não sou pássaro de gaiola!
Vira-me as costas e lá vai, agora em direção ao rio no seu deambular compulsivo e constante.
- Bom Ano, Sr. João!
Torno a olhar a imensidão do mar a poente e pestanejo uma, duas vezes tamanha é a luminosidade refletida pelas águas calmas do nosso mar.
- Bom Ano Novo, Sr. João!