Mulheres do mar.
Carregue no PLAY para ouvir a Ana Margarida.
Sou a Ana Margarida, neta de pescadores, menina mulher da Cova-Gala onde nasci, vivo e trabalho.
Ainda não me conhecem, mas prometo tudo fazer para, de aqui a uns tempos e com o correr das crónicas, nos conhecermos melhor.
Quando me propuseram este desafio logo me inundou o pensamento falar das mulheres do mar.
As mulheres, sempre presentes na vida dos homens do mar.
Iremos falar deste tema, recuando no tempo e descrevendo aspetos históricos da vivência de então.
Também falaremos das questões da atualidade e modernidade que, por ironia do destino, nalguns aspetos, de modernidade não tem nada, antes se assemelhando ao cinzentismo de outros tempos.
O sal que me corre nas veias deu-me o mar quando nasci.
Esse mesmo mar que tem alimentado gerações e gerações de Covagalenses, ao longo dos tempos, no seu infindável labutar.
Aliás, é esse mar que nos dá identidade enquanto povo.
Por ele e através dele cruzámos oceanos, pescámos nos mares da Terra Nova, da Gronelândia, de África, das Américas e da Ásia.
O que seria, como seria a vida dos pescadores sem a presença, “omnipresença”, das suas mulheres?
É comummente aceite que a vida do mar é para homens. O mundo do mar sempre foi considerado social e profissionalmente como masculino, de homens e só para homens.
Mas, será que é assim?
Será que, se repararmos bem nos comportamentos das comunidades piscatórias, não iremos encontrar muitos exemplos em que essa verdade é, foi, colocada em causa?
Será que não assistiremos a trocas de papeis e de tarefas profissionais com a mulher a ocupar papel de relevo?
Sim! Iremos, claro que iremos!
E mais, as mulheres do mar, sempre tiveram a cargo, sempre a seu cargo, a casa, a educação dos filhos, o amanhar da terras nos quintais, a gestão dos dinheiros, da míngua como se dizia então …
Enquanto os homens labutavam durante seis meses por ano, na pesca do bacalhau, nos mares do Atlântico norte, eram elas, as mulheres, que guardavam a retaguarda, sustinham o asseio, o sustento da casa e dos filhos.
E ainda tinham tempo para carrear torrão nas marinhas de sal…
Trabalhar nas secas do bacalhau …
Descarregar e carregar barcos…
Puxar as redes das artes na praia …
Vender o pescado nas praias ...
Vender e apregoar o peixe pelas aldeias e cidades circundantes, calcorreando caminhos, cabeços e valados de canastra à cabeça …
Quase sempre sorrindo...
Sim, quase sempre sorrindo porque, apesar de tudo, ainda tinham tempo para folguear, cantar e bailar …
Por tudo isto me sinto tão menina mulher deste povo.