Naufrágio do navio-motor João Costa
Faz hoje 64 anos que naufragou, ao largo dos Açores, o navio João Costa, da frota de pesca de bacalhau à linha da Figueira da Foz.
Muitos figueirenses e covagalenses, dos seus 73 tripulantes, foram protagonistas de tão trágico acontecimento.
Fica aqui em jeito de homenagem este simples tributo.
Carregue no PLAY e ouça a voz da Ana Margarida.
O navio-motor JOÃO COSTA tinha largado de Lisboa a 15 de Abril de 1952 rumo aos Bancos da Terra Nova e Gronelândia.
Era um barco construído em madeira nos Estaleiros Navais do Mondego, na Murraceira, em 1945. Tinha cerca de 48m e era propriedade da Sociedade de Pesca Luso-Brasileira, Lda., sediada na Figueira da Foz.
Com 73 homens de tripulação, naquela campanha e, usando o método da pesca de bacalhau à linha com um pescador num dóri, pescou, carregou e salgou - ao longo de 5 meses - 11.000 quintais de bacalhau.
Assim carregado, iniciou a viagem de regresso à Figueira da Foz, no dia 18 de Setembro de 1952.
Cinco dias depois o navio deixou de comunicar com Lisboa. Perderam-se todas as comunicações via rádio.
A 23 de Setembro, pelas 20h00, quando boa parte da tripulação confraternizava comemorando o aniversário do camarada Penicheiro sentiu-se uma explosão seguido de incêndio na casa das máquinas.
Nesse momento o JOÃO COSTA navegava a escassos três dias de ter o cabo Mondego à vista e os familiares na barra à sua espera.
Rapidamente se constatou ser o fogo incontrolável e foi célere a decisão de abandono, face ao perigo de novas explosões nos tanques de combustível.
Os pescadores abandonaram o navio distribuindo-se por 22 dóris e, por ali se deixaram ficar ligeiramente afastados, assistiram ao afundamento do navio que submergiu totalmente na manhã do dia 24.
Começou então a tragédia da tripulação, perdida no mar sem água, nem alimento.
O capitão, João José Silva Costa, determinou que os dóris se dividissem em dois grupos e com o auxilio de duas bússolas tentaram navegar rumo à ilha de S. Miguel, que sabia estar a escassas 60 milhas para sul.
Os homens nos dóris tentavam, por todos os meios manter-se agrupados. Mas, se durante o dia era relativamente fácil permanecerem juntos, navegando à vela, já o mesmo não acontecia durante a noite e era terrível a dor e frustração de constatar, no dealbar da primeira luz do dia, o desaparecimento de alguns camaradas afastados por ventos e correntes.
A sede era tanta e tão terrível. Só ao terceiro dia os náufragos conseguiram aproveitar água da chuva que caiu em abundância.
A 27 de Setembro quis o destino que o navio Americano COMPASS, por mero acaso, encontrasse e recolhesse 12 náufragos, transviados dos outros. Lançou de imediato o alarme a toda a navegação na área e, como rumava ao Mediterrâneo, decidiu continuar o seu rumo e deixar os náufragos na costa do Algarve em Lagos.
Esta noticia chegou rápido à Figueira, suavizando o sofrimento que o silêncio das comunicações provocara. - Já se tinham salvo 12 homens. Não se sabia a identidade dos salvados e a angustia continuava. 49 dos seus tripulantes eram figueirenses de Buarcos, Vila Verde, Cova-Gala.
Finalmente, a 30 de Setembro, a cidade da Figueira da Foz recebeu com júbilo a notícia oficial de terem sido salvos todos os tripulantes do navio-motor JOÃO COSTA.
35 náufragos foram recolhidos pelo navio STEEL EXECUTIVE, logo seguido pelo HENRIETTE SCHULTE, que salvou os restantes 27 homens.
Desembarcaram todos em Ponta Delgada, Açores.
E as pobres mulheres, pais, mães e filhos, que há dias lutavam com aquela horrível dúvida, deram largas à sua alegria, à qual se juntou toda a cidade festivamente.
Imagine-se a sua imensa alegria quando, passado alguns dias, puderam abraçar os seus familiares regressados sãos e salvos.