O Calão no Linguajar dos Ilhos
Um enorme abraço de gratidão por esta prenda, amigo Senos Fonseca.
Prometo embrenhar-me, enlear-me neste seu livro que tanto, a nós covagalenses, também, diz.
Permita que lhe ofereça um pequeno poema, em memória dos meninos que, aos 16 anos de idade, pela mão de seus pais e avós, embarcavam para o bacalhau.
16 anos de idade, moço e pescador
Tanto mar, tanto ar, tanto medo
Tanto frio, tanto nada, tanto gelo!
O que é que faço aqui?
Neste norte branco, neste vento.
Neste mundo, branca névoa.
Nesta bruma,
Nesta escuna
Neste bote, neste dóri.
Madeiro leve e lasso.
Nestas ondas deste mar
Do norte frio e de morte.
O que é que eu faço,
Que é que eu faço?
Quero fugir!
Fugir da ditadura
Da surriada, do trole, bacalhau
Da isca, da linha, zagaia e pingalim.
Este gelo corta como aço
Que tanto tortura, tanto dura.
O que é que eu faço,
Que é que eu faço?
O que é que faço aqui?
Neste norte branco, neste vento.
Neste mundo, branca névoa
Nesta bruma,
Nesta escuna
Neste bote, neste dóri
Madeiro, leve e lasso.
Nestas ondas deste mar
Do norte frio e de morte.
O que é que eu faço,
Que é que eu faço?