... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego.
Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira
... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego.
Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira
MALHÃO 3.0 "Põe a grade bem no cimo da geleira O cadeado no cofre de madeira E vem dançar Vai começar Deita em água uma mão de feijão verde Pimentão, salsa e louro no borrego Deixa a apurar E põe-te a andar Se compravas, põe à venda Se arrendavas, sub-arrenda Flash em off Posta a foto Faz negócio E anda lá daí pra fora Chegou a hora Já não há saco p’ra tensões Peritos, magos e vilões Toda a gente A ver se mete O alfinete Em forma de comentário Incendiário Olha as luzes na praça E a populaça Toda em pulgas p’ra cantar Vem comprovar Ver para crer Bailar até cair pró lado Esquece o jantar ‘Bora a correr Hoje a festa é do Diabo E meio gás não serve Só calor e entrega em noites ávidas Rebelião de febre Bombos, suor e lágrimas Traz a avó, a cunhada e o gaiato Deixa o shot de aventuras para o chato Que quis faltar Pode ajudar Toca a andar, pernas para que te quero Burricada, Malhão 3.0 É aguentar E vira o par O Circo lá esgotou O bom senso extraviou A solução É onda de invasão Da Galiza ao Sotavento Repovoamento! E não é que pelos vistos Vem aí o apocalipse Tu queres ver Que chatice Não há realista Que ature a realidade Haja piedade! Olha as luzes na praça E a populaça Toda em pulgas p’a cantar Vem comprovar Ver para crer Bailar até cair pró lado Esquece o jantar ‘Bora a correr Hoje a festa é do Diabo E meio gás não serve Só calor e entrega em noites ávidas Rebelião de febre Bombos, suor e lágrimas." Não, não é erro. Decifra!
Pus-me à noite a ouvir o mar sentado na pedra sentado na areia e senti uma barcarola criar devagar esta melodia tinha a crista e vaga desta vaga história d'arte marinheira luzia na prata mais rica, mais rica mais rica que havia e aquele pensamento d'ir e voltar sempre que há na maresia fez subir da água, dessa água toda, cem mil caravelas era mais que o mar mais que a vida toda quem ali fervia e foi muito mais que um homem com guitarra quem soltou as velas tive ali a consciência tinha ali a história toda tinha ali um povo antigo a cantar comigo uma canção de roda
Mergulhei da praia nessa história grande de alma derramada falei com mareantes e conquistadores gente aventureira crepitei nas ondas marés de ida e volta partida e chegada cortei fundo a crista do gume das vagas duma vida inteira mas daquele mar fundo fundo mar que lá fica sempre trago só lembranças e um saco de tempo s'é que o tempo presta quem disser que o viu que o compreendeu ou se esquece ou mente pois no fundo hoje a raiva que ficou é tudo o que nos resta
Tive ali a consciência tive ali a história toda tive ali um povo antigo a cantar comigo uma canção de roda
um cientista, um pintor, um arqueologo, um estilista, um astronauta, um cantor, um marinheiro".
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"E se aquilo, aquilo que nos dão todos os dias não for coisa que se cheire ou nos deslumbre, que pelo menos nunca abdiquemos de pensar com direito à ironia, ao sonho, ao ser diferente. E será talvez uma forma inteligente de, afinal, nunca... nunca, nunca ser tarde demais para viver, nunca ser tarde demais para perceber, nunca ser tarde demais para exigir, nunca ser tarde demais para ACORDAR".
Se quiseres partir amanhã eu páro o mundo com facilidade, assim com esta mão e então descobriremos o mais profundo fundo que há no mundo que é no irmos fundo às coisas que há razão. de verdades consumadas me consomem de falácias bem montadas me alimentam mas meu filho, mora o reino do futuro que é mais duro e não vai ser com palavras que o contentam.
Se a morte lenta te rebenta sob a pele a cada dia e se no teu braço apenas sentes a força de um cansaço organizado mas manténs na tua fronte a dúvida e o gosto pelo longe e a maresia e se sentes no teu peito de criança a alma de um sonho amordaçado
se quiseres partir amanhã eu páro o mundo com facilidade assim com esta mão e então descobriremos o mais profundo fundo que há no mundo que é no irmos fundo às coisas que há razão
Iste mundus furibundus falsa prestat gaudia, quia fluunt et decurrunt ceu campi lilia. Laus mundana, vita vana vera tollit premia, nam impellit et submergit animas in tartara.
(in "Carmina Burana", c.1230) Tradução do latim:
Este mundo furibundo nos dá falsas alegrias, que fluem e se dissipam como pelos campos os lírios. Louvores mundanos, vida vã afastam-nos dos veros prémios, para impelir e submergir nossas almas no tártaro.
Letra e música: Pedro Barroso Intérprete: Pedro Barroso (in "Roupas de Pátria, Roupas de Mulher", 1986)
Pus-me à noite a ouvir o mar sentado na pedra sentado na areia e senti uma barcarola criar devagar esta melodia tinha a crista e vaga desta vaga história d'arte marinheira luzia na prata mais rica, mais rica mais rica que havia e aquele pensamento d'ir e voltar sempre que há na maresia fez subir da água, dessa água toda, cem mil caravelas era mais que o mar mais que a vida toda quem ali fervia e foi muito mais que um homem com guitarra quem soltou as velas tive ali a consciência tinha ali a história toda tinha ali um povo antigo a cantar comigo uma canção de roda
Mergulhei da praia nessa história grande de alma derramada falei com mareantes e conquistadores gente aventureira crepitei nas ondas marés de ida e volta partida e chegada cortei fundo a crista do gume das vagas duma vida inteira mas daquele mar fundo fundo mar que lá fica sempre trago só lembranças e um saco de tempo s'é que o tempo presta quem disser que o viu que o compreendeu ou se esquece ou mente pois no fundo hoje a raiva que ficou é tudo o que nos resta
Tive ali a consciência tive ali a história toda tive ali um povo antigo a cantar comigo uma canção de roda
O Poeta e cantador de Portugal tem razão, tem toda a razão!
Nestes tempos de domínio de agências de rating, juros e da anónima e ínvia especulação financeira que coloca em causa a soberania, velha e milenar, é bom lembrar quem somos de onde provimos.
O dificil, dificil mesmo, é ter a noção do essencial e do verdadeiro escalonamento das prioridades.
Um dia destes um jovem amigo, com quem partilho o gosto de ouvir Pedro Barroso, disse-me que esta lindíssima canção lhe trazia à memória a sua saudosa avó.
É verdade. Este belo poema evoca aqueles cabelos brancos da nossa infância, os olhos meigos que nos olhavam nos momentos de maior fraqueza e nos perguntava:
- Que é menino, que tens?
- Anda cá à avó, anda!
No aconchego de seu colo passava a mão pelos nossos cabelos rebeldes, uma e outra vez, murmurando:
- Pronto, pronto já passou!
- Vai lá que isso não é nada!
E lá partíamos correndo desbravando esse mundo inteiro que se abria à nossa frente.
Divido por todos nós e por todas as rugas e cabelos brancos das nossas infâncias, a música e a voz deste trovador de Portugal, Pedro Barroso.