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Amanhã, 10 de Junho, dia de Camões, o poeta que nos sublima a identidade
enquanto povo.
Esta (ao lado) é a imagem formatada, formal, que dele conhecemos e que nos foi induzida pelos tempos.
Haverá outra, a verdadeira, mais humana, menos formal e mais, muito mais simples, que imaginamos.
Dele próprio e a seu nascimento, assim escreveu:
Eu sou um menino do ar do vento
navegando nas asas do pensamento
embalado pelo sopro brando do vento
aos píncaros da alegria e do sofrimento
em vagas de dor e de contentamento.
Eu sou um menino da vaga e da espuma
deste mar onde navego e se esfuma
toda a esperança alojada em escuma
fugaz efémera volátil leveza de pluma
como sopro alado de quem “suruma”.
Eu sou um menino do pó e do caminho
que vai andando deambulando sozinho
e tropeçando nas veredas em desalinho
procura incessante as origens do ninho
que dê nome valor e algum pergaminho.
Eu sou um menino da maresia e do sal
espantado pelo profícuo povo que tal
gente determinou ser única e original
ao ponto de a partir da pia batismal
nome tomar por seu a bravura matricial
Eu sou um menino das dunas e da areia
bebeu água de poços dos quintais da aldeia
e já navegava na ideia de na maré cheia
nas vagas do mar encontrar a sereia
sua eterna onírica e plebeia Dulcineia.
Eu sou um menino do rio e do mar
qual gigante navegou mares de Zanzibar.
de aqui ali e acolá em eterno vaguear
sulcou oceanos não sabendo sequer sonhar
um dia no atlântico norte e frio naufragar.
Eu sou um menino da vida e do sonho.
suponho
risonho
tristonho
Medronho.
João Pita
2020-08-23
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão
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