... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego.
Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira
... algures na costa portuguesa mesmo a sul da foz do rio Mondego.
Era, como se dizia então, um bom pesqueiro. Havia fartura de pescado e as artes, ainda novas e de não fácil manuseio, vinham carregadas até á vergueira
Amanhã, 10 de Junho, dia de Camões, o poeta que nos sublima a identidade enquanto povo. Esta (ao lado) é a imagem formatada, formal, que dele conhecemos e que nos foi induzida pelos tempos. Haverá outra, a verdadeira, mais humana, menos formal e mais, muito mais simples, que imaginamos. Dele próprio e a seu nascimento, assim escreveu:
"O dia em que nasci morra e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar,
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o sol padeça."
E, assim, te "plagiei" na inocência do meus vinte anos de idade:
Dina minha gentil, que vives
Nessa terra tão doce, livremente
Descansa na Beira, docemente
E viva eu nesta guerra, sempre triste.
Se à guerra não fora eu,
De ti não me separaria jamais
Juro-te por Deus, não sou ateu
Que de mim terias amor, até demais.
No entanto, olhando o céu
água nos olhos, lacrimejantes,
Rogo que a guerra seja como véu
Cubra minha vida temporáriamente.
Pois olhar-te, amar-te como d'antes
Eu anseio e tenho em mente.
(perdoa-me, este devaneio, mas era dificil fazer melhor às dez da noite numa camarata militar repleta com trinta mânfios a falar, a discutir, a ralhar, a rir, a jogar à lerpa e eu ... a escrever uma carta de amor livre, puro e doce, somente.)
Longa vida, Camões.
Ainda haveremos de viver outros novecentos anos, também e principalmente por Ti.
Eu sou um menino do ar do vento navegando nas asas do pensamento embalado pelo sopro brando do vento aos píncaros da alegria e do sofrimento em vagas de dor e de contentamento.
Eu sou um menino da vaga e da espuma deste mar onde navego e se esfuma toda a esperança alojada em escuma fugaz efémera volátil leveza de pluma como sopro alado de quem “suruma”.
Eu sou um menino do pó e do caminho que vai andando deambulando sozinho e tropeçando nas veredas em desalinho procura incessante as origens do ninho que dê nome valor e algum pergaminho.
Eu sou um menino da maresia e do sal espantado pelo profícuo povo que tal gente determinou ser única e original ao ponto de a partir da pia batismal nome tomar por seu a bravura matricial
Eu sou um menino das dunas e da areia bebeu água de poços dos quintais da aldeia e já navegava na ideia de na maré cheia nas vagas do mar encontrar a sereia sua eterna onírica e plebeia Dulcineia.
Eu sou um menino do rio e do mar qual gigante navegou mares de Zanzibar. de aqui ali e acolá em eterno vaguear sulcou oceanos não sabendo sequer sonhar um dia no atlântico norte e frio naufragar.
Eu sou um menino da vida e do sonho. suponho risonho tristonho Medronho.
Se não fosse esta certeza que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia, nem falava com ninguém. Acocorava-me a um canto, no mais escuro que houvesse, punha os joelhos á boca e viesse o que viesse. Não fossem os olhos grandes do ingénuo adolescente, a chuva das penas brancas a cair impertinente, aquele incógnito rosto, pintado em tons de aguarela, que sonha no frio encosto da vidraça da janela, não fosse a imensa piedade dos homens que não cresceram, que ouviram, viram, ouviram, viram, e não perceberam, essas máscaras selectas, antologia do espanto, flores sem caule, flutuando no pranto do desencanto, se não fosse a fome e a sede dessa humanidade exangue, roía as unhas e os dedos até os fazer em sangue.