Porque
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Encontrei à pouco, à poucochinho
Ou, talvez fosse em um outro dia,
Este belo e proverbial poema de Sophia.
Aqui te peço perdão insigne poetisa
Pela vil imagem que esta mente giza
Porque o li, reli e avaliei qual cadinho
Caldeando o pútrido e desleal caminho
Onde pulula ínvio interesse desta freguesia.
Porquê?