Vamos falar de politica.
Como podem reparar ao ler o titulo deste post subentende-se a utilização do pronome pessoal na primeira pessoa do plural e não, intencionalmente, no singular, porque todos entendem que a politica a sério e séria é sempre de todos e para todos e não só de alguns ou de algum em particular.
Se não for séria nem a sério ela, a politica, tende a ser rasteira e parcial com utilização intensiva de mandantes e serviçais, visando sempre algum interesse de ocasião que tanto pode ser de milhões como de tostões, ou, ainda, de triste figura onde os protagonistas quase sempre são truões.
E é de truões que se fala quando constatamos a filiação intencional e oportunística num qualquer partido apressando-se a cair nas graças do Sr. Dr., ou Sra. Dra. para conseguir o tal murozito ou, a alteraçãozita das regras, aqui ou ali, para comodidade e interesse do próprio e desassossego da vizinhança. E é, também, de truão quando verificamos a criação de um blogue cujo primeiro e único objectivo é denegrir a imagem de outrem servindo, assim, em bandeja de blogueiro rasca e esvaziado de cultura cívica, a paz politica do poder instalado. Mas, é também de truães, quiçá compelidos por invejices de vária ordem, a intempestiva menorização de um prémio Leya e a importância que o mesmo tem.
Deixando de lado este tipo de política vamos então falar da outra, a verdadeira a que deveria ser a única prevalecente. A que estuda, pondera, equaciona e trata da sociedade nas suas múltiplas vertentes.
Aquela que tem o Homem como alvo primordial, a sua dignidade e bem estar como objetivo primeiro e onde a educação, a saúde, o trabalho e a vivência social harmoniosa devem ter lugar de destaque.
E a propósito destes temas deixo-vos em companhia de um texto de uma professora que para além do exercicio da sua profissão se prepocupa com a política ... ou a falta dela.
"Violência (nas escolas)
vamos imaginar que os pais têm de trabalhar 8 horas por dia para ganhar o ordenado mínimo nacional ou pouco mais do que isso. vamos imaginar, que na melhor das hipóteses, os pais perdem cerca de 1 hora de viagem em transportes públicos, confortáveis e com lugares para todos, ou no seu próprio carro para chegar ao trabalho e depois chegar a casa. vamos imaginar que estes pais têm chefes/patrões que lhes pagam tarde e a más horas e ainda apelam ao seu bom senso, afinal é feio cuspir no prato onde se dá de comer e se reivindicam pelos seus direitos, os mandam enfiá-los onde quiserem. vamos só imaginar que há patrões/chefes que tratam os seus empregados como robots sem sentimentos que têm de produzir, produzir, produzir, todos os dias, fins- de semana, 24 horas sobre 24 horas, ininterruptamente. vamos só imaginar. vamos imaginar que os filhos destes pais estão diariamente à sua mercê ou porque já não têm avós que os cuidem ou porque os avós vivem longe ou porque já estão eles a precisar de cuidados ou porque os pais não têm dinheiro que pague mais uma despesa mensal, um ATL, uma sala de “estudos”, os filhos ficam à sua mercê. Vamos imaginar que estes filhos às vezes adormecem e faltam aos primeiros tempos da manhã porque até se deitaram tarde a jogar às escondidas, com a porta do quarto fechada, aquele jogo virtual onde, ainda assim, há alguém com quem se possa “estar”, eventualmente “conversar”. há alguém. há alguém acordado, porque os pais que acordam às 5 para saírem às 6, já dormem. vamos só imaginar. vamos imaginar que estes filhos diariamente fazem o que lhes apetece, comem o que lhes apetece, estão com quem lhes apetece, sabendo, porém, que em frente às escolas há sempre gente que se aproveita destas e de outras fragilidades e que ilude. há notas de euros em abundância, há a boa disposição que se compra e vende e “é na boa”. vamos só imaginar. vamos imaginar que os pais chegam a casa exaustos, sem paciência, na melhor das hipóteses sai um “correu bem o dia?” cuja resposta monocórdica é sempre “sim”, “o que é que almoçaste?”, “estava uma porcaria, carne com massa ou arroz com atum”, “comeste a sopa?”, “sim” e “lanchaste?”, “sim”. falta “com quem estiveste? o que é que aprendeste hoje?”, ou simplesmente “estás bem, filho(a)?” olhos nos olhos e um sorriso nos lábios. vamos só imaginar. vamos imaginar que ao chegar a casa, há o jantar para fazer, com o qual também se prepara a marmita para o dia seguinte, há roupa para estender, lavar ou passar, há a cozinha para limpar, ainda há uns relatórios para fazer ou ler, ainda há uns e-mails para responder porque há a hipótese de progressão na carreira ou quem sabe de um aumento salarial. vamos imaginar que os filhos que andaram por aí, estão por aí na sua própria casa e depois do jantar, na melhor das hipóteses, a família até se fecha em silêncio em telemóveis, tablets, computadores, “I” isto, “I” aquilo. vamos imaginar que na pior das hipóteses, depois do jantar, há as discussões constantes, os gritos pai-mãe, mãe-pai, pais-filhos, filhos-pais, filhos-cão-gato-amigos-escola. ESCOLA. vamos só imaginar. há os pais que sabem que isto é errado e repreendem mas ao repreender o ambiente pesa, todos sabemos o que é contrariar um adolescente e isto cansa, educar cansa e os pais deixam estar, afinal também têm o que fazer e assim os filhos estão entretidos. educar cansa, é mais um cansaço, é mais uma tarefa. vamos só imaginar. vamos imaginar que no fim do mês, depois de pagarem todas as contas, os pais que conseguem, compram aos seus filhos as sapatilhas da moda ou outra coisa qualquer de marca “que toda a gente tem”, toda a gente sabe que é muito mais fácil ser igual a toda a gente. os pais conscientes sabem que erram, sabem que não é a compensar com bens materiais que se educa um filho, mas cedem porque se sentem mal, porque se sentem culpados, porque não querem que os seus filhos estejam abaixo de ninguém a sofrer o preconceito na pele. os pais inconscientes nem sequer pensam nos filhos, nem sequer sabem nada, se a escola correu bem, se precisam de alguma coisa como um abraço, portanto não percamos tempo a falar desses, já se sabe o impacto nocivo que têm na vida dos seus filhos. vamos só imaginar que há alienação parental. vamos só imaginar. vamos imaginar que a violência nas escolas se deve a tudo isto e por isso, quando na televisão se tenta falar de violência nas escolas, não se fala realmente de violência, porque violentos são os dias e sobre isso ninguém quer falar. vamos imaginar. vamos só imaginar que temos um problema social gigante nas mãos e todos vivemos tão roboticamente os dias que nos negamos a falar dele."
Eunice Pimentel